sábado, 4 de abril de 2015

Da nossa história…(24) (apoiado na História dos Escoteiros de Portugal - de Eduardo Ribeiro e jornal escotista “Sempre Pronto“)


Reorganizando…
O ano de 1961 iniciara com uma polémica suscitada pela análise que o jornal “Sempre Pronto”, sempre atento e interventivo, entendeu fazer do que fora o ano escotista anterior dentro da AEP, a que José Maria Nobre Santos reagiu com algum vigor, ferido pela falta de apreciação do seu esforço, ignorando que o jornal se referia global-mente a uma realidade associativa que, infelizmente, dava razão aos seus comentários. Saudável polémica entre um jornal adulto, que acompanhava o interesse de alguns dirigentes e dos antigos escoteiros na afirmação e expansão associativa, e um esforçado dirigente, que se desdobrava no louvável empenho de alcançar tal objectivo. A verdade é que, não talvez por isso, o ano de 1961 veio a ser um ano de intensa actividade associativa, especialmente a nível das estruturas centrais

Direcção Regional em Lisboa
Na realidade, depois do entusiasmo que se viveu com as actividades que celebraram o Infante D. Henrique, que levaram alguma animação aos Grupos de escoteiros, mas que evidenciaram as carências organizativas com que a AEP se debatia, parece que reorganizar teria sido a palavra de ordem, à qual só respondeu inteiramente a Região do Centro, onde José Maria Nobre Santos se fez rodear de colaboradores válidos e com eles construiu a nova estrutura regional.
A Direcção Regional, que tomou posse em 23 de Fevereiro de 1961, era constituída por Aníbal Gonçalves Ramos, Presidente; José Maria Nobre Santos, Escoteiro-chefe Regional; José Eduardo Pena Ribeiro, Chefe Regional adjunto; Duarte Gil Mendonça, secretário. Foram ainda empossados para dirigir os Serviços Culturais, Serviços de Informação e Divulgação Escotista e Serviços de Material e Uniformes, respectivamente, Pedro Cascalles Paínho, Mariano Garcia e Ernesto Clímaco do Nascimento.
A cerimónia de posse, realizada na Sede da AEP, foi presidida pelo Escoteiro-Chefe Nacional, comodoro Duarte Silva, que na oportunidade afirmou:estou convencido de que este é o acto mais importante da actual direcção, estando certo de que da competência e dedicação dos seus membros irá resultar uma época de Escotismo activo e brilhante para a Região Centro, de harmonia com as tradições dos Escoteiros de Portugal”.
Por força da reorganização regional operada, as actividades escotistas adquiriram alguma regularidade, com a dinamização de alguns grupos de escoteiros na Região Centro e num ou outro ponto do país, ao que também não era estranho a capacidade organizativa dos grupos evangélicos que levam a efeito actividades conjuntas, para as quais convidam outros grupos.
Muita desta acção está forçosamente relacionada com a investidura do jovem Armando Inácio como chefe do Grupo n.º 94, uma das unidades mais activas e influentes da Região Centro, que numa só frase demonstrava todo o dinamismo do seu programa: “… os rapazes apreciam muito não só a acção, movimento, mas a confraternização com grandes efectivos. Gostam de viver intensamente e de se sentirem apoiados por muitos companheiros. Se se realizassem actividades de conjunto com outros grupos, talvez na base regional, tais como visitas culturais, grandes jogos de inverno, exercícios, festas, sessões de cinema escotista, concursos entre patrulhas, etc., despertariam o entusiasmo dos rapazes e, fariam, até, propaganda do Movimento”.

Morte do Dr. Alfredo Tovar de Lemos
Entretanto, um facto a assinalar com a maior tristeza foi o falecimento em Fevereiro do Dr. Alfredo Tovar de Lemos, e “o Escotismo Português perdeu um dos homens mais dedicados e de maior prestígio entre os que têm militado nas suas fileiras”. Licenciado em medicina em 1908, cedo se dedicou nobremente à defesa de causas sociais e patrióticas, colaborando activamente na campanha de “O Século” a favor das crianças pobres e dirigiu com o maior empenho e competência os serviços médicos da Cruz Vermelha Portuguesa e da Federação dos Bombeiros.
No Escotismo, onde entrou já adulto, exerceu sempre os cargos mais elevados, dando provas de competência, honestidade e dedicação. Foi Comissário Nacional e mais tarde Presidente dos Escoteiros de Portugal, vindo a ser, igualmente, Presidente da Fraternal dos Antigos Escoteiros, cargos que ele dignificou com a sua postura de cidadão e patriota. Ficamos-lhe a dever a excelente reorganização e elevado prestígio conseguidos nos Escoteiros de Portugal em 1921, quando a associação se debatia com sérios problemas de identidade e desentendimentos entre os mais responsáveis. É no “Sempre Pronto” (n.º 191, Março/1961) que vamos encontrar a sentida homenagem daquele jornal e dos antigos escoteiros aquele ilustre dirigente.
A oportunidade de evocar mais uma vez a ilustre figura do dr. Tovar de Lemos, como um dirigente de excepcional envergadura, veio dar a oportunidade de denunciar, aberta ou encobertamente, as falsas dedicações que voltavam a acercar-se dos lugares cimeiros da AEP, procurando envolver-se na sua orientação, com intenções consideradas de duvidoso interesse dos interesses do Escotismo. Era um período em que o empenhamento dos antigos escoteiros se fazia sentir em volta das actividades escotistas, quer para prestar serviços mais ou menos relevantes, quer para emitir judiciosas sugestões sobre os caminhos a seguir e metas a alcançar. A tudo estava atento o jornal “Sempre Pronto” e é através dele que ficamos a conhecer o que se vai passando nos meandros associativos, eivados pela presença de elementos menos identificados com os verdadeiros valores do Escotismo.
Os antigos escoteiros, integrados na Fraternal, mantinham-se atentos e críticos ao que se passava nos Escoteiros de Portugal

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