segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Da nossa história…(23) (apoiado na História dos Escoteiros de Portugal - de Eduardo Ribeiro e jornal escotista “Sempre Pronto“)

Horizonte mais claro, mas sem sol

Não obstante os esforços dos seus responsáveis e as avulta-das verbas despendidas, numa organização onde se disputavam as prebendas e honrarias dos lugares cimeiros, a Mocidade Portuguesa evidenciara já a sua absoluta incapacidade de conquistar para a seu seio, menos ainda de forma voluntária, toda a juventude portuguesa, como havia sido planeado no seu início. 
Por outro lado, o facto de aquele organismo estar a ser dirigido desde 1956, enquanto subsecretário de estado da Educação Nacional, pelo antigo dirigente da AEP Baltasar Rebelo de Sousa, e os comportamentos colaborantes dos responsáveis pelas associações esco 
 
tistas, muitos deles comungando dos ideais dos que governavam o País, foram tornando possível uma convivência entre estas e a organização nacional, que passou a aceitar o Escotismo como parceiro útil nas suas actividades e projectos de renovação dos seus métodos.

Apoios explícitos às associações escotistas
Dessa abertura, começaram a beneficiar as associa-ções escotistas, que puderam realizar alguns dos seus anseios, como a possibilidade de alguns apoios financeiros do Estado para a participação em actividades internacionais e a dispor de facilidades na utilização das matas nacionais para as suas actividades mais significativas.
 
A AEP conseguiu mesmo, graças à intervenção do seu Presidente, a cedência de um espaço para a instalação do seu “campo escola”, na Costa da Caparica, no qual, logo em 1960, veio a realizar-se o Acampamento “Infante D. Henrique”, integrado nas Comemorações Henriquinas, que todo o País celebrou.

Após a instalação das indispensáveis estruturas de apoio, a sua inauguração, como Parque Nacional de Escotismo, veio a acontecer em 1964.

Por sua vez, o CNE, também presente nas Comemorações Henriquinas, com a realização do seu XI acampamento nacional, no Estoril, adquiriu em 1961, com forte apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, um excelente terreno em Fraião, Braga, onde veio a instalar o seu primeiro “campo escola”, inaugurado em Julho de 1963, tendo desde então prestado excelentes serviços ao Escotismo, com a frequente realização de cursos de “Insígnia de Madeira”, dos quais aproveitaram também alguns chefes da AEP, antes da criação da ENFIM.

Todavia, apesar das facilidades conquistadas, os Escoteiros de Portugal não logravam organizar-se por forma a reconquistar o prestígio público que outrora tinham alcançado, não obstante os esforços de alguns dos seus dirigentes, nomeadamente os quatro delega-dos dos Serviços Centrais, Coutinho Lanhoso no Norte (beneficiando do entusiasmo do seu adjunto Arnaldo Couto), Nobre Santos no Centro, João Trigueiros no Algarve e Moniz Silva nos Açores, que dinamizavam os chefes de Grupo mais dedicados e competentes, realizando com eles actividades bastante interessantes, mas que não logravam alcançar para a AEP a expansão tão desejada, tanto mais que continuavam a existir grupos mal organizados, com chefes indesejáveis que trans- mitiam uma duvidosa imagem dos valores do Escotismo.
Em boa verdade, o que faltava aos Escoteiros de Portugal era uma estratégia de liderança e crescimento, revelando-se a incapacidade directiva, onde a boa vontade de um Presidente, rodeado de pessoas simpáticas e colaborantes, mas absolutamente desconhecedoras da matéria escotista, não chegava para dar à AEP a força indispensável para irromper do imobilismo a que fora condenada.

Por outro lado, o Escotismo Católico desenvolvia-se por todo o País, graças à acção empenhada e entusiástica dos seus principais dirigentes e à aceitação inteligente da hierarquia da Igreja que disponibilizava espa-ços para sedes e apoiava com interesse a formação de novas unidades.

Não obstante o que fica dito, o ano de 1960 foi de grande entusiasmo pelos grupos, especialmente na Região de Lisboa, realizando-se grande número de pequenas actividade, que adivinhavam a possibilidade do despertar o adormecido movimento associativo.

Podemos ainda acrescentar os apoios muito positivos da Fraternal e do jornal “Sempre Pronto”, acompanhando e estimulando as actividades dos grupos de escoteiros. Digno de referência o concurso “Escalpe de Ouro”, realizado por S.P., que levou às patrulhas con-correntes valiosos conhecimentos e significativo esti-mulo, durante todo o ano de 1960.

Acampamento “Infante D. Henrique”

Apesar dos esforços desenvolvidos nesse sentido por alguns dos mais dedicados dirigentes, não se achavam reunidas as condições associativas para levar em frente a organização do desejado Acampamento Nacional, que serviria para associar os Escoteiros de Portugal às comemorações Henriquinas e, também, para marcar o início das actividades da AEP no então chamado “Campo Permanente dos Escoteiros de Portugal” (mais tarde denominado PNEC), na Costa da Caparica. 
 
Porém o Delegado dos Serviços Centrais para a Região Centro (era assim que se designava naquele período o responsável regional), engº José Maria Nobre Santos, também responsável pela instalação do Parque Escotista, assumiu com grande determinação o empre-endimento, que veio a concretizar-se, com o apoio incondicional do antigo escoteiro e dirigente da Frater-nal Ernesto Clímaco do Nascimento (que viria a ser nomeado Chefe do Acampamento), a que se juntou a colaboração de alguns dirigentes dos Grupos de Lisboa e arredores.
 
Os escoteiros acorreram ao acampamento com grande entusiasmo. Mas, por falta de realização dos trabalhos de preparação prévia, o acampamento não cumpriu totalmente o programa de actividades escotis-tas que estaria previsto, pois aos escoteiros e dirigen-tes presentes foi solicitado durante os primeiros dias um prolongado e esforçado trabalho de preparação do terreno, a que os todos se entregaram com abnegado esforço e verdadeiro espírito escotista.

Mesmo assim, alguns dos Grupos presentes pude-ram apresentar excelentes trabalhos de técnicas de campo, que mereceram o agrado dos muitos visitantes que o Acampamento registou
Foram convidados a participar delegações do Norte, do Sul e dos Açores. Devido à falta de meios, a Região Centro, com o apoio da Fraternal, enfrentou os custos da deslocação dos escoteiros vindos do Norte e do Algarve e para a deslocação dos escoteiros dos Açores contava-se com a colaboração da Força Aérea, mas aquela falhou à última hora e os rapazes daquele arquipélago não puderam vir.      
Acampamento da juventude no Vale do Jamor
Participando do mesmo ciclo comemorativo, tiveram lugar o XI Acampamento Nacional do CNE, na Quinta da Marinha, no Estoril e o Acampamento Internacional da Juventude, no Vale do Jamor, com o qual a Mocidade Portuguesa quis fazer uma demonstração das suas capacidades de organizar os nossos jovens, reunindo no Vale do Jamor cerca de 2000 rapazes, entre os quais muitos convidados estrangeiros e jovens trazidos das províncias ultramarinas, não deixando, porém de pressionar a presença das associações escoteiras, que estiveram representados por 40 e 26 rapazes, respectivamente, para além dos seus dirigentes principais que não deixaram de ali estar presentes para acompanhar as visitas do Presidente da República. Presidente do Conselho e diversos ministros que por lá passaram, para dignificar uma actividade espaventosa mas de fraca qualidade pedagógica, na qual se terá gasto um rio de dinheiro.