domingo, 28 de outubro de 2012

Da nossa história… (22)

(apoiado na História dos Escoteiros de Portugal - de Eduardo Ribeiro e jornal escotista “Sempre Pronto“)
Da falta de uma estratégia global…
O 46º Aniversário dos Escoteiros de Portugal
foi comemorado com um acampamento em Carcavel
o
Não obstante os esforços de grande número de dirigentes, que iam produzindo boas actividades nos seus grupos e mesmo ao nível das regiões, a evidente falta de uma estratégia de crescimento associativo e de um plano global de actividades, que transmitisse mais entusiasmo aos grupos e uma visão pública da importância do Escotismo, a acção da AEP continuava ao nível de uma confrangedora mediania, tornando-se mais do que evidente que se estavam perdendo excelentes oportunidades de criar novas expectativas posto que, por um lado seria de todo lógico poder contar com o apoio do seu Presidente na obtenção de benesses e patrocínios, quer das entidades oficiais quer de algumas empresas nacionais, por outro lado adivinhava-se já uma certa abertura para o Escotismo perante a notória falta de credibilização e de aceitação pública da Mocidade Portuguesa.
      Ao contrário, o Escotismo Católico investiu fortemente no seu desenvolvimento, dedicando especial atenção à criação de novos agrupamentos por todo o País e também nas colónias ultramarinas, onde conseguiu ladear a proibição imposta pelo decreto 29453, através de instrumentos baseados na concordata de 1940. A isso, acrescentou elevado investimento na formação dos seus dirigentes, num tal entusiasmo que o observador menos atento poderia supor que a associação católica teria nascido realmente nos anos “cinquenta”.
   Na realidade, as alterações que se verificaram na sua estrutura, a mudança de nome da associação, a “descoberta” de novas palavras para identificarem, entre nós, o Movimento e os seus praticantes – escutismo e escuteiro – palavras que impuseram no léxico português, e um discurso de novidade entusiasmante, ainda que incorrecto, tudo parecia justificar tal suposição.         
   Apesar da AEP dispor de uma figura tão carismática no panorama político nacional, era o CNE que, mais inteligentemente, se conduzia, através dos corredores das hierarquias católicas e apoiando-se em acordos que estabelecia, através desta, com as entidades oficiais ou com os comandos da Mocidade Portuguesa, que ia colhendo os melhores resultados no que dizia respeito ao indispensável apoio institucional e facilidades operacio-nais.
   Para que esta afirmação não pareça vazia de conteúdo, permitimo-nos recorrer a documento insuspeito, para citar um exemplo apenas, de entre muitos: “… em 1956 seria convocado o II Congresso da Mocidade Portuguesa. E, facto de relevo e revelador do reconhecimento do escutismo católico, o CNE foi especialmente convidado pelo então secretário de estado da Educação, Baltasar
Padre Ferreira da Silva

Rebelo de Sousa, para participar no congresso, como observador, mas com o objectivo de que «a sua experiência pedagógica, o resultado do seu esforço e a clareza do seu ideal pudessem ajudar a MP a escolher um rumo novo, o que viria a ser o sistema de voluntariado no seio dessa organização, como ficaria a ser uma das conclusões do Congresso, graças a uma especial intervenção, entre outras muitas e até de dirigentes da MP, dos dirigentes nacionais do CNE, que apoiaram essa tese»(1)
   Entenda-se, porém, que o que fica dito não representa senão o reconhecimento pelo excelente trabalho desen-volvido naquele período pelo Escutismo Católico Português e pelos seus dirigentes, que acreditaram no Escotismo e o entenderam como verdadeiro instrumento de educação da juventude, com destaque para o incansável e meritório trabalho desenvolvido pelo padre Manuel Ferreira da Silva, seu assistente nacional e, cumulativamente, secretário-geral, que foi o motor e grande orientador de todo esse desenvolvimento, o qual apontava, em 1952, o caminho a seguir:                                              
em primeiro lugar, melhorar a nossa posição: firmando e aperfeiçoando a consciência dos nossos chefes; e depois recrutar novos, que passando pelos nossos campos-escola que, ficou decidido se deverão realizar todos os anos que for possível, vejam no Escutismo um movimento ideal para os jovens e para as famílias(1).
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1) “CNE Uma História de Factos”

A visita do general Spry
   Facto saliente e de acentuada importância foi a visita a Portugal do Director da Repartição Mundial do Escotismo, general Daniel C. Spry, que chegou a Lisboa no dia 17 de Abril de 1959.
   A aguardar o ilustre dirigente, estiveram no aeroporto os secretários internacionais da AEP e do CNE e outros representantes das direcções daquelas associações e da Fraternal dos Antigos Escoteiros, para além de duas deputações de caminheiros da AEP e CNE, que fizeram a guarda de honra ao visitante.
Na noite do dia seguinte, os escotei-ros, em festa, receberam o ilustre dirigente na Escola Francisco Arruda. Uma guarda de honra na escadaria de acesso ao edifício acolheu o vis-tante, que ao entrar na sala foi saudado pelo entusiasmo esfusiante dos muitos escoteiros presentes e cumprimentado pelo prof. Calvet Magalhães, director daquela escola, Ali Dandachi, Comissário dos escoteiros da Síria, Henrique Tenreiro, Duarte Silva, Manuel Lopes Peixoto, Diogo Afonso, dirigentes da AEP, D. Paulo de Lencastre e Vítor Lima Santos do CNE, bem como muitos outros dirigentes das duas associações e da Fraternal.  
O padre Pedro Gamboa, que dirigiu os escoteiros, saudou o visitante e apresentou-o à numerosa assistência, explicando a importância do seu alto cargo no Movimento Escotista e da missão da Repartição Mundial do Escotismo. Depois conduziu os escoteiros, que entoaram diversas canções e executaram gritos que animaram a assistência, oferecendo-lhe um verdadeiro ambiente escotista.
O ministro da Educação conversa animadamente
com o General Spry, na presença de dirigentes
das duas associações
   O general Spry, dirigiu-se aos escoteiros e guias para lhes dizer que se alegrava muito em ver ali tantos e tão bem uniformizados, acrescentando: “O que está dentro do uniforme é bastante mais importante, contudo o uniforme ajuda a compreender o que está dentro” e continuou “Muitos de vós, talvez, não vos tendes apercebido de que pertenceis a uma organização muito mais vasta, que conta mais de oito milhões de membros em 80 países diferentes, de diferentes religiões, nacionalidades, que têm a pele de diferentes cores, altos, baixos, gordos, magros, mas que de facto têm muito em comum e pertencem à mesma fraternidade mundial. Quanto mais viajo – e tenho viajado 100.000 milhas anuais – mais verifico que as nossas semelhanças são mais do que as nossas diferenças. O denominador comum é a mesma Lei, a mesma Promessa, os mesmos ideais…”.
O General Spy foi recebido
pelo ministro da Presidência,
acompanhado pelos
dirigentes da AEP e CNE
   As palavras do orador, traduzidas por Lima e Santos, foram vibrantemente aplaudidas pelos escoteiros, guias e antigos escoteiros presentes.
   Tomou depois a palavra o comandante Tenreiro, presidente da AEP, que fez o elogio do general Spry, após o que colocou no peito do visitante a medalha de reconhecimento LIS DE PRATA, que distingue o seu trabalho e dedicação pelo Escotismo Mundial.
   Seguiu-se a intervenção de D. Paulo Lencastre, saudando o visitante, destacando o seu meritório trabalho, após o que lhe entregou o COLAR DE NUNO ÁLVARES, igualmente a mais alta distinção daquela associação.
O Presidente da AEP cumprimenta
o General Spry,
depois de o condecorar
com a medalha LIS DE PRATA,
pela sua dedicação ao Escotismo
   Os antigos escoteiros, representados por Ernesto Nascimento e Vasco Antunes, fizeram entrega ao Director da Repartição Internacional do Escotismo de uma bonita placa de prata com a insígnia da Fraternal, com apropriada dedicatória.    Sensibilizado, Daniel Spry agradeceu: “aceito as condecorações não como preito de homenagem, mas como lembrança daquilo que o Escotismo Português tem feito pelo Movimento”.
   O general Spry deslocou-se a Lisboa para se aperceber do desenvolvimento das duas associações e preparar a 18.ª Conferência Internacional do Escotismo, que viria a realizar-se em 1961.
   O Director da Repartição Mundial foi recebido pelo Ministro da Educação Nacional, dr. Francisco Leite Pinto, que lhe ofereceu um almoço, para o qual foram igualmente convidados dirigentes da AEP e CNE, bem como um representante da Mocidade Portuguesa.
   Daniel Spry teve ainda oportunidade de realizar uma conferência de imprensa para dizer aos jornalistas portugueses as razões da sua vinda a Portugal e explicar a forma de funcionamento do Escotismo Mundial, que dispõe de comissários nas diversas partes do mundo, através dos quais se vai mantendo informado, referindo-se ainda às “profundas transformações que estão acontecendo em África”, de onde acabara de chegar.

Visita de Lady Baden-Powell
     Em 5 de Fevereiro de 1960, um numeroso grupo de guias e escoteiros aguardavam no aeroporto a chegada de Lady Baden-Powell, Chefe Mundial das Guias, a figura viva mais representativa de todo o movimento escotista.
Saudada com grande entusiasmo, a ilustre visitante recebeu os cumprimentos de boas vindas dos dirigentes das associações guidista e escotistas, bem como da Fraternal dos Antigos Escoteiros.
           
Maria Luísa Magalhães Esteves Pereira,
que fundou em Portugal o primeiro grupo de Guias,
entrega a Lady Baden-Powell uma lembrança da Fraternal



José M. Nobre Santos, Delegado dos Serviços Centrais da AEP
na Região Centro, cumprimenta a Chefe Mundial das Guias,
em nome daquela associação
No dia seguinte, na sala de cinema do Secretariado Nacional da Informação, realizou-se uma festa de homenagem pro-movida pelas Guias de Portugal, na qual estiveram presentes: D. Maria Guardiola, em representação do ministro da Educação Nacional, o ministro do Ultramar, o embaixador de Inglaterra e muitas guias, escutas e escoteiros.
     Em outra cerimónia, rodeada de simplicidade, a AEP, através do seu chefe-geral, fez entrega à ilustre visitante da condecoração LIS DE PRATA.
     Lady Baden-Powell demorou ainda alguns dias no nosso país, a convite da associação das Guias, que a rodearam de atenções e lhe proporcionaram o conhecimento de algumas belezas de Portugal. Regressou a Inglaterra no dia 16 de Fevereiro.

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