sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Da nossa história...(3c) PERCURSORES DO ESCOTISMO em Portugal

O TERCEIRO GRUPO

Não se conhece de quem teria sido a iniciativa de organizar no Liceu de Pedro Nunes um grupo de scouts. Talvez mesmo não tenha havido uma iniciativa individual.
Aquele Liceu era uma instituição aberta a tudo que pudesse ser útil à formação e educação dos seus alunos, graças à visão esclarecida do grande pedagogo dr. António Joaquim Sá Oliveira, que aceitou e sentiu o Escotismo.
“A criação do Grupo - afirma um dos seus membros fundadores, o pintor Carlos Botelho - ficou a dever-se principalmente ao ambiente de espírito associativo que existia no Liceu. Esse ambiente era dado pelo próprio director, dr. Sá Oliveira, que veio a ser o presidente da Associação dos Escoteiros. Ele considerava que o TRÊS não era mais do que uma aula voluntária dentro do programa do Liceu. Não há dúvida que a Associação Escolar e o Escotismo estiveram intimamente ligados, pois este veio completar as actividades daquela, já que o ambiente lhe era perfeitamente receptivo”.
É ainda Carlos Botelho que acrescenta: “ o TRÊS era um grupo muito eclético, mas muito curioso, de ex-pressões diferentes no que respeita a ideias, atitudes e até no pensamento religioso, pois tínhamos ali rapazes católicos, protestantes, neutros (entre os quais eu me situava) e tínhamos até um israelita… e todos se davam às mil maravilhas”.

Através de comunicações publicadas em 7 e 19 de Setembro de 1912, no jornal “O Século”, se conhece a existência do Grupo n. 3 da AEP. Assumiria a chefia do Grupo o comandante Jaime do Inso, figura muito conhecida, que fez parte da sua vida como oficial de marinha, no Oriente. Seguiu-se-lhe João Nolasco, que já conhecia o Escotismo desde Macau, pois fizera parte do “ante-primeiro” grupo. Em 3 de Dezembro de 1915, assumiu o cargo o eng. Henrique Carlos de Moura, sendo oficialmente nomeado em 8 de Março seguinte. Foi notável como escoteiro chefe e um grande entusiasta do Movimento até ao fim dos seus dias.
Não se conhece quem foram exactamente os rapazes que fundaram o TRÊS. Todos os escoteiros teriam de ser obrigatoriamente alunos do Liceu, aos quais se exigia bom aproveitamento. Se este faltava, o escoteiro era afastado, para que não se dissesse que a actividade prejudicava os estudos. A direcção do Grupo era constituída pelo dr. Braga Paixão, presidente, João Correia Júnior e Celestino Soares. O Grupo constituiu-se com seis patrulhas: Águia, Cão, Cavalo, Galo, Melro e Pombo e teve actividade intensa, com acampamentos e exercícios.

É geralmente reconhecido que o grande êxito do TRÊS residia no Reitor, dr. Sá Oliveira que, não fazendo parte do Grupo, era um grande escoteiro. São dele estas significativas palavras:
“ É uma bela instituição o Escotismo. O nome tem certo ar de antiguidade; a sua forma, o seu espírito e os seus fins fazem lembrar a cavalaria medieval. De criação recente, a organização deu-lha um general, e pode dizer-se que nasceu nos campos de batalha. Mas é uma instituição civil, é uma obra de paz.”
“… muitos o têm considerado um capítulo da edu-cação física. Puro engano; a cultura física é apenas uma forma do escotismo, cujo campo é bem mais largo, visando a educação dos sentidos, a cultura da inteli-gência, a depuração dos sentimentos, a formação da vontade, o desenvolvimento da personalidade…”

O Grupo n.º 3 marcou a sua presença, juntamente com o UM e o DOIS, em todos os acontecimentos da época. Depois de o dr. Sá Oliveira deixar o seu lugar no Liceu, todas as actividades circum escolares foram perdendo ritmo e foram desaparecendo. O Grupo de escoteiros encerrou em 23 de Agosto de 1920, tendo sido nomeada uma comissão liquidatária constituída pelo eng. Henrique de Moura, Gomes da Silva e Carlos Botelho. Esta comissão publicou um comunicado em que estabelecia um regulamento, em consequência do qual os antigos escoteiros se reuniam anualmente, o que foi feito com regularidade até aos anos oitenta.

O Grupo n.º 3 voltou a aparecer, no início do ano de 1933, sob a chefia do dr. José Duarte de Ayala Boto, seu antigo escoteiro, mas entretanto veio a proibição da existência de escoteiros nos estabelecimentos escolares e o grupo acabou.

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